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IBG prevê restrições do Cade à fusão de Praxair e Linde

Postado em 01/2017

Para Oliveira, da IBG, fusão de White Martins e Linde gera uma concentração “muito elevada” de mercado no Brasil.

A fusão da americana Praxair, que atua no Brasil por meio da White Martins, e da alemã Linde pode ser, afinal, uma oportunidade para a única fabricante brasileira de gases industriais, a Indústria Brasileira de Gases (IBG).

O fundador da companhia, Newton de Oliveira, diz acreditar que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) vai impor algum tipo de restrição à união dos negócios das duas multinacionais no país e prevê venda de parte dos ativos. Nesse cenário, ele diz ter interesse em adquirir unidades que facilitam a expansão da IBG em alguns mercados locais, como Norte e Nordeste. Atualmente, diz que a presença da IBG é mais forte na Região Metropolitana de São Paulo. A empresa tem uma fábrica em Jundiaí, onde está sua sede. Em março, outra unidade produtiva vai funcionar em Santa Catarina. Oliveira calcula que a White Martins, sozinha, detenha 59% do mercado brasileiro de gases e a Linde Gases, cerca de 12%. A fusão criaria no Brasil uma empresa com 71% – concentração considerada “muito elevada” pelo empresário para passar despercebida no Cade. É um mercado dominado por multinacionais, cujas participantes já foram alvo de investigação por formação de cartel. Inclusive, a IBG.

Há ainda a atuação da francesa Air Liquide, com a segunda maior fatia de mercado pelas estimativas de Oliveira, de 16%. O grupo também americano Air Products tem quase 7%, estima. Outros cerca de 4% estariam pulverizados entre diferentes comercializadores.

A IBG, informa o empresário, tem pouco mais de 2% de participação de mercado. Com faturamento de R$ 110 milhões no ano passado – que representa uma queda de 11% ante 2015 -, o executivo conta que a empresa nunca contraiu dívidas, investindo sempre com recursos próprios. Para adquirir os potenciais ativos à venda, em decorrência da fusão Praxair-Linde, Oliveira não descarta recorrer, de maneira inédita, a uma captação, ou mesmo atrair um novo sócio para a companhia. Linde e Praxair anunciaram em dezembro a conclusão de dois anos de negociação para criar a maior empresa global do setor, com US$ 65 bilhões de valor de mercado. Elas destacaram que foi aprovado pelos respectivos conselhos e assinado acordo não vinculante e que esperam assinar um acordo definitivo assim que possível.

O negócio ainda precisará ser submetido a análise de reguladores em diversos países, dentre eles o Brasil. Conforme o Cade, ainda não foi protocolado nenhum pedido de análise da fusão no país. Segundo o presidente da IBG, trata-se de um mercado muito fechado. “É um setor eletrointensivo e capital intensivo. Para colocar uma fábrica de pé, uma parte da produção já precisa estar vendida”, explica. A fabricante brasileira, que completa 25 anos neste janeiro, enfrentou seu pior ano em 2016. O presidente conta que o mercado doméstico está passando por dificuldades. “Com a expectativa de que o Brasil seria a bola da vez, os grupos investiram, montaram fábricas e, com a recessão, há muito produto disponível”, deixando um cenário em que “há muita competição por preço”.

Apesar de acreditar que uma parte das operações deverão ser colocadas no mercado com a fusão, o presidente da IBG considera alguns riscos de não conseguir aproveitar essa oportunidade. Além de a negociação ainda não ter sido fechada, ele diz que há a chance de o novo grupo já ter negociado a venda de operações específicas antecipadamente. As duas multinacionais informam que o movimento combina, globalmente, posições geográficas complementares, além de resultar em um portfólio mais diverso. As vendas pro-forma combinadas somam em torno de US$ 28 bilhões. A expectativa é de que a fusão tenha como resultado criação de valor, resultando em aproximadamente U$ 1 bilhão em sinergias anualmente. Procurada para comentar os possíveis impactos da fusão no Brasil, a White Martins informou que todo o processo é conduzido diretamente pela controladora e pela Linde. A Linde Gases não foi encontrada para comentar possíveis desdobramentos no país.

 

Fonte: GS Notícias – Gestão Setorial